quarta-feira, 30 de março de 2011

A palavra de ordem é PRESERVAR!

praia do Atalaia, vêm sofrendo com os abusos da interferência humana.Fotos Eduardo Brandão

por Ericka Pinto / março 2011

De acordo com Eduardo Brandão, a soma dos fatores naturais e antrópicos coloca em risco o futuro dessas praias. "A situação reflete dois fatores principais: por um lado, sabemos que as mudanças climáticas estão provocando a aceleração de algumas dinâmicas, tais como a ocupação das áreas de manguezal pelas areias das praias e o aumento da erosão. Por outro lado, a demanda apresentada para esses territórios vem agravando situações recorrentes em todas elas, como lixo, ocupações irregulares em área de risco, esgoto sem tratamento, conflitos fundiários, entre outros. Aliado a esses dois fatores, está a ineficácia da gestão pública", critica.

Em Algodoal, apesar da grande procura no período de férias escolares, ainda é possível observar maior conservação do ambiente natural. Eduardo Brandão, pesquisador do Laboratório de Avaliação e Medidas do Instituto de Ciências Exatas e Naturais (ICEN/UFPA), pós-graduado em Gestão Pública e Governo, faz uma previsão nada otimista afirmando que, em pouco tempo, o cenário será igual ao dos outros lugares.

Ajuruteua, aos poucos, caminha para o mesmo processo. Quase toda a extensão da praia é ocupada por barracas e a estrada que dá acesso ao local provocou o desaparecimento de grande parte do mangue, uma vez que a pavimentação impediu que a água das marés chegasse ao manguezal na região, transformando parte dos bosques de mangue em um cemitério verde.

A diferença entre esses lugares ainda está no processo de ocupação urbana, alguns com maior intensidade. É o caso de Salinas, onde os efeitos da interferência humana já são visíveis, como construções irregulares de hotéis, residências de veraneio e barracas, além de calçamento e pavimentação inadequados.

As praias do litoral paraense são um grande atrativo para quem busca fugir do estresse da vida urbana. Bastam algumas horas de viagem para contemplar a natureza. O destino? Você escolhe. Mosqueiro, Salinas, Alter do Chão, Ajuruteua e Algodoal costumam estar entre as praias mais procuradas pelos paraenses e turistas do Brasil e do exterior.

Projeto prevê a criação de política nacional de proteção
Para tentar reverter os efeitos negativos provocados por esses fatores (natural e antrópico), a Universidade Federal do Pará tornou-se parceira do Projeto Orla, uma iniciativa do Ministério do Planejamento Orçamento e Gestão (MPOG) e do Ministério do Meio Ambiente (MMA). As ações do Projeto visam implementar uma política nacional elaborada de forma compartilhada, articulando ações de incentivo ao turismo e de proteção ao meio ambiente, por meio de planejamento do uso e da ocupação urbana da orla brasileira.

Inicialmente, o Projeto Orla foi planejado para atender as demandas da zona costeira marítima brasileira, a qual possui diferenças estruturais em relação às orlas flúvio-estuarinas da Região Norte. Assim, pesquisadores e técnicos da UFPA precisam discutir com os Ministérios do Planejamento e do Meio Ambiente a adaptação metodológica aos ambientes estuarinos e fluviais da Amazônia.

Para promover a revisão do protocolo metodológico, os pesquisadores da UFPA percorreram vários municípios, identificando os problemas ambientais existentes. Os encontros também contaram com a participação de representantes de vários órgãos governamentais (federal, estadual e municipal), de institutos de pesquisa e de organizações da sociedade civil.

Eduardo Brandão ressalta que é preciso um esforço conjunto de vários órgãos governamentais e não governamentais e da sociedade em geral, para colocar o projeto em prática, "precisamos evitar a perda do patrimônio público e privado existente no litoral, bem como o comprometimento da renda e das condições de sobrevivência daqueles grupos que sobrevivem dos recursos naturais e das dinâmicas, como o turismo".

Poços rasos deixam água imprópria para o consumo
Praias, rios, furos, igarapés, mangues e dunas são atrativos naturais do município de Salinópolis, um dos mais procurados durante o verão paraense e as festas de fim de ano. O cenário seria perfeito, não fosse a ocupação desordenada que já apresenta seus efeitos nocivos, como a contaminação das águas subterrâneas provocada por construções irregulares. O alerta é do professor Milton Matta, doutor em Hidrogeologia. Ele afirma que a água retirada dos poços construídos em residências, hotéis e pontos comerciais é imprópria para o consumo e representa uma bomba- -relógio para os órgãos de saúde.

Formado por rochas porosas e permeáveis, o aquífero serve como reservatório que abastece rios e poços artesianos e pode ser utilizado como fonte de água para consumo. Na região de Salinas, o aquífero superior está comprometido pelo processo de salinização das águas. Obras, como o calçamento da orla da praia do Maçarico e a construção de hotéis, estão contribuindo para esse processo. "Os aquíferos são abastecidos com a água da chuva e, como a área ficou impermeabilizada por essas construções, menos água vai entrar. Com menos infiltração de água doce, a cunha salina vai penetrando na água, e tornando-a salgada, imprópria para consumo", explica.

Outro problema apresentado por Milton Matta está na abertura desenfreada de poços artesianos, a maioria tem perfuração inferior à recomendada pelo Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Pará (CREA-PA). São poços rasos, que usam o aquífero superior, comprometido pela salinização. Além disso, a profundidade fica vulnerável a fossas, lixo hospitalar, posto de gasolina, entre outras fontes potenciais de contaminação. "Vou apresentar denúncia ao Ministério Público do Estado, com a proposta de se criar uma lei municipal que proíba a construção de poço com profundidade inferior a 20 metros", diz o professor.

Orla: esgoto, lixo e pedras fazem parte da paisagem
De acordo com Milton Matta, três alunos de doutorado vão desenvolver pesquisas na costa nordeste do Estado para a elaboração de propostas de modificações quanto ao abastecimento de água - e a preservação das praias de Salinas. Para isso, os pesquisadores farão o levantamento da quantidade de água que está sendo retirada dos poços, o cadastro e a medição da vazão. A partir desse monitoramento, será possível estabelecer a vazão máxima e evitar que novos poços sejam abertos aleatoriamente. "O poço de um hotel, por exemplo, daria para abastecer um bairro. Mas todo mundo quer fazer seu poço particular. A permissão tinha que ser dada pela prefeitura ou por um órgão competente", critica.

Segundo o geólogo, para construir um poço, é necessário que ele tenha registro no CREA, por ser uma obra de Engenharia Hidrogeológica. "Essas obras não usam canos adequados, os que possuem filtros, e sim canos de PVC branco, furados à mão, os quais deixam passar água e contaminação", alerta. Outro problema ambiental, encontrado no município, é o esgoto a céu aberto dos banheiros das barracas. Construídas nas praias, as fossas irregulares contaminam o ambiente com o despejo de fezes e urina.

Mais pedra, menos areia – Não é só a contaminação das águas, o esgoto e o lixo que ameaçam as praias de Salinas. O aparecimento de pedras na areia é cada vez mais frequente e pode comprometer a beleza natural do lugar. "Há 15 anos, essas pedras não existiam ali, era só areia. O aporte de areia que está vindo para a praia é menor que a quantidade retirada", explica Milton Matta.

De acordo com o geólogo, a ação do homem está modificando a dinâmica marinha nesta área e, como consequência, a areia está dando lugar às rochas. Os pesquisadores ainda não sabem o que é causa geológica - resultado dos ciclos na dinâmica marinha - e o que realmente está relacionado à interferência humana no ambiente, como a ocupação de carros, barracas, hotéis e residências. A praia do Atalaia é o exemplo mais visível das mudanças no cenário natural de Salinas. Por ser a mais procurada pelos banhistas, poderá desaparecer em pouco tempo.

Aos poucos, outros lugares estão sendo ocupados pelo homem, como a praia da Corvina, onde já é possível observar a presença de barracas. "Mas não é só nessa região que temos esse problema. Ajuruteua e Algodoal, importantes do ponto de vista turístico, apresentam o mesmo processo de ocupação e interferência humana", diz Milton Matta.

fontes:
http://www.ufpa.br/beiradorio/novo/index.php/leia-tambem/123-edicao-92--marco/1178-ocupacoes-desordenadas-ameacam-praias-do-litoral-paraense

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